quinta-feira, 31 de maio de 2012


Grandes provas de corrida de rua em Salvador: 

o que dizer ou comemorar!?

 
Caros professores Nixon e Gilmário:

Concordo com o prof. Nixon em afirmar que o momento é de deslumbramento, porém não podemos esquecer que precisamos, como treinadores que somos, de zelar pela qualidade das provas e, sobretudo, pela saúde e bem-estar de nossos alunos.

É preciso ter senso crítico, sem contudo, deixar a emoção perpassar as raias da razão. Não podemos nos calar diante de fatos de erros gritantes, mas confesso que às vezes também me sinto um pouco sem força para remar contra essa correnteza do apelo mercadológico que se estabeleceu às corridas, inebriando o senso crítico até de pessoas sensatas de inteligentes.

Conheço vocês dois de longas datas. Sou testemunha, de igual modo que vocês, que já vivemos um outro tempo no qual as corridas de rua tinham um outro significado, uma visão mais romântica de prática desportiva, onde quem as praticava eram os amantes da corrida. 
 
Não quero me permitir ser tão saudosista, mas ao mesmo tempo sinto falta da aura despretensiosa que permitia que esses poucos aficcionados participassem de provas de corrida de rua, com o único intuito de "fazer a prova", a despeito de camisetas, garrafinhas e outros mimos de agora.

Como tudo na vida é muito dinâmico, as corridas de rua também estão mudando de forma rápida e drástica. Não sou do tipo me opor às mudanças, mas sempre vejo o "estouro da boiada" com olhos mais cautelosos. Sempre hei de me perguntar: para onde isso está indo? Será que eu quero também ir junto? Preciso seguir todos dessa forma ou tenho uma opinião diferente, uma visão um pouco mais distinta de onde quero chegar?

Tenho por vocês dois uma imensa admiração pessoal e um respeito profissional de mesmo calibre. Sei que vocês falam (no caso, escrevem!) com absoluta coerência e sensatez, mas em alguns pontos me permito discordar.
 
Ao tempo que precisamos incentivar e fomentar a realização de grandes provas na Bahia, precisamos, outrossim, de sermos vigilantes quanto à qualidade do "serviço" que está sendo vendido. Sim, vendido, já que as provas cobram caro pela participação dos atletas!

Bem, em se tratando da existência dos grupos de corrida (ainda insisto nessa denominação!), apesar da ATEC-BA ter cada vez mais espaço e notoriedade, penso que precisamos ainda ajustar alguns detalhes, mesmo para a ocupação das tendas dos associados na nossa área reservada, com aconteceu na última prova.

Precisamos ainda rever alguns pontos como o tamanho das tendas, a forma de como são montadas (uma mais junto o possível da outra), existência de área anexas (fora da tenda) do tipo
play-ground (área ocupada apenas por cadeiras ou colchonetes), e também um local específico para o alongamento antes da prova, já que as famosas rodas que estão sendo feitas estão praticamente invadindo o espaço de outras tendas. Isso não é bom, mas é ajustável. Precisamos pensar, redigir e divulgar um código de conduta que contemple essas questões para que possamos ter um convívio mais ordeiro entre nós mesmos.

Sobre o evento Fila Night Run, a prova do jeito que está, insiste em ser bela em imagem, um verdadeiro espetáculo circense, mas muito fraca em relação ao respeito ao participante. A vocação da prova para ser chamada de Fila Night "Ruim" é enorme, como já foi assim num passado próximo. Parafraseando Nelson Rodrigues, a prova desse ano foi "bonitinha, mas ordinária"!

Vejamos os fatos, para não acharem que estou com picuinha: Área da arena muito ruim (no meio do mato), com pouca área pavimentada, área das tendas insuficiente para os grupos de corrida (embora tivéssemos já alertado para isso!), falta de local para estacionamento dos carros de apoio dos grupos, trânsito local liberado (em frente à arena) com sério risco de acidentes, área de largada péssima, já que foi extremamente apertada, com a existência de quebra-molas e buracos (muitos caíram na largada!).

E o percurso? Horrível! Como se faz uma prova com um percurso tão sofrível, pois a pista logo após a largada estava compartilhada com os carros e por ser muito estreita não havia como correr com a quantidade de corredores lentos e caminhantes em fileira, lado a lado, que encontramos à frente. 
 
O percurso "oferecido" aos participantes foi cheio de retornos e idas e vindas, um percurso mal sinalizado e mal medido (na verdade, o de 5km teve  4,7km e o de 10km mediu cerca de 9,6km), apesar da ATEC-BA ter avisado aos responsáveis com antecedência, no contato que tivemos com eles antes da prova, que o percurso do ano passado estava a menor.

Mas quem "organiza" por onde vai passar a prova está preocupado que os percursos da prova estejam incorretos? Certamente que não, senão teriam consertado esse erro grotesco esse ano!

Conclusão: Além da péssima atenção às questões técnicas mais básicas, quem "planejou" a área da arena e o percurso da prova  pode ter pensado em tudo, mas com certeza não levou em consideração o corredor participante, que é o nosso aluno, tampouco também não levou em consideração a nossa opinião como treinadores. 

O fato é que essa corrida cresceu muito e não pode mais, em hipótese alguma, ser realizada ali! Existem sugestões melhores, mas será que existem interesses nos bastidores que não deixam que se evolua em termos de percurso aqui em Salvador!?

Infelizmente, como já vi escrito em alguns artigos que li, "corredor é bicho besta", vai lá e faz qualquer prova que seja bem divulgada. Penso que nesse caso, basta uma garrafinha mais colorida e uma camisa melhorzinha que o restante fica esquecido. O corredor se inscreve, paga caro e faz a festa para os outros e fica, calado, submetido a esses absurdos.

No final, vi muitos cantando, dançando e "comemorando" o "melhor tempo da vida deles" nos percursos ridicularmente menores e que não foram sequer devidamente informados aos participantes.

Muitos alunos nossos comemoraram também seus "tempos baixos", mas nós os esclarecemos ainda após a prova que os percursos foram menores e os tempos não poderiam ser comemorados com "o melhor já feito"!

O fato das consequências à saúde após a prova, que parece ter sido mesmo algo relacionado a uma infecção bacteriana de algum alimento servido na prova, caso confirmado, torna-se um espetáculo patético, pois todos nós, feito tolos, ainda pagamos pelo descaso e por esse desrespeito aos participantes.

Enquanto isso, enchemos a prova para o orgulho dos "(des)organizadores" e para o lucro de alguns poucos. Será que a realização de grandes provas em Salvador (ou na Bahia) merece nosso apoio irrestrito dessa forma? Em nome de ser algo grande em espetáculo, precisamos sucumbir a esse tipo de situação? É isso mesmo!?

Penso que a realização de grandes provas na Bahia é de interesse mútuo, ou seja, dos organizadores, dos patrocinadores, dos grupos de corrida e dos participantes em geral. 

Realizar uma grande prova em Salvador ou na Bahia não é um favor de ninguém nem para ninguém! Segundo alguns comentários que ouvi de alguns organizadores, realizar provas em Salvador tenho sido difícil e mais caro do que em outros centros.

Mas que interesse haveria em dificultar a realização de grandes provas aqui? Quem ganha (se é que ganha!), então, criando tais dificuldades? Não se configura aí uma situação do tipo   "criar dificuldades para vender (bem caro!) facilidades?

Pode ser até duro revelar isso, mas de alguma forma, nós treinadores por ignorância, descaso ou omissão somos também coniventes com essa situação!

E o que tem acontecido? Lá vai recorde acima de recorde de participação. Já havia um recorde de participação contabilizado com mais de 3200 concluintes na última etapa do Circuito das Estações Adidas.

Agora, para o orgulho dos promotores e de um punhado de "interessados" em corrida aqui de Salvador, nessa prova houve 5800 inscritos (muitos pagam apenas pelo kit!), sendo que cerca de 4300 (quatro mil e trezentos) concluintes nas duas provas (a de quase 5km e a de menos de 10km!).

Quem organiza e realiza corridas aqui em Salvador sabe da dificuldade que é colocar 1000(mil) participantes numa prova. É preciso "fazer das tripas coração" para tentar atrair grupos de corrida com seus alunos. Apenas como exemplo, cito a Corrida Ravenna no domingo que antecedeu ao Fila Night Run que contou apenas com 5 grupos de corrida presentes com suas tendas e um punhado de alunos que se contava nos dedos. 

Uma prova feita aqui, por um organizador local, com um percurso ótimo, bem organizada, com um bom atendimento ao participante, com parceria com a ATEC-BA... Mas é daqui e talvez por causa disso não se deu o valor que ela merecia ter. A prova da Ravenna teve a participação de pouco mais de 230 corredores (sem contar a caminhada). Isso mesmo. Duzentos e trinta participantes nas provas de 5km e 10km juntas!

Talvez ainda tenhamos aquela famigerada cultura do índio, ou seja, de que o que vem de fora é o melhor, não importa o que seja. E se ainda por cima tiver "espelhinhos" e outras quinquilharias o resto passa a ser irrelevante...

E aí quem tem medo de falar, se cala. Quem tem medo de agir, fica quieto e faz de conta que não é com ele!

Mas num local onde tudo termina em festa, quem se importa com o respeito e a consideração que deveria se ter com o participante da prova!?

Ainda acredito que a ATEC-BA, como instituição que congrega os legítmos interesses dos treinadores, possa agregar forças para que juntos possamos atuar de forma mais decisiva nesse processo, incentivando e ajudando no desenvolvimento das corrida de rua na Bahia, porém sem perder a noção do espírito crítico tão saudável e tão necessário a qualquer propósito de crescimento.

Vou terminar de escrever agora senão vou ter também náuseas, enjôo e mal-estar e aí vão dizer que é virose!


  André Araújo
Presidente da ATEC-BA 
Coordenador Técnico do Grupo Corpus Vitalle

Um comentário:

  1. Andre, boa tarde,
    Estou acompanhando todos os comentarios sobre o ocorrido na Fila Night Run.
    Voce já contactaram a organização do evento?
    É sabido que o servico de alimentação nas provas acontece de forma tercerizada, obviamente não exime a empresa de tal responsabilidade, mas oi ideal é contactar.
    Abs,

    Prof. Adevan Pereira

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